Durante todo o meu treinamento em Aikidô, fui confrontado com uma falta em meus estudos. Como não entendemos muito sobre o lado exotérico e teórico do Ki, nos atemos muito à forma física e aos cuidados técnicos de execução para que a força muscular execute o movimento.
Vale dizer , que sempre tive contato com a divulgação dos pensamentos do fundador (Morihei Ueshiba) e sua ampla explanação sobre esta maneira, quase exotérica, do treinamento do Aikido ou melhor, sobre o poder interno ou Ki. Durante anos vi e li ivros de Aikidô que abordam o assunto, estes livros para mim, pareciam ser compilações de idéias e vivências de outras pessoas.
Recentemente, eu tive o prazer de participar do seminário no Aizen Dojo em Brasília, com o mestre William Gleason, shihan, 6º. Dan, aluno direto do legendário Yamaguchi sensei. Gleason é autor de diversos livros sobre Aikido e de dvds que abordam sobre o poder interno ou KI , e tive o privilégio de ser um de seus Ukês (atacantes).
Não tive a menor dúvida, "vou segurar este cara e quero ver se isto funciona mesmo".
E realmente funciona !!
Olha, mesmo com uma grande diferença de peso e força Sensei Gleason me arremess ou com facilidade e com mínimo movimento!!
Escute, olhe, estou pesando 120 Kg.
Normalmente, quando falam de Energia interna (ki) e Aikidô, a conversa tende a ser a mesma.Falam de um Aikidô puramente receptivo, preocupado em harmonizar com o ataque e que para funcionar é necessária grande cooperação.
A impressão que passa é a de um Aikidô falso e fraco, onde o praticante fica mesmerizado pelo Tori. Coisa assim: “ Voce Finje que me ataca e Tori finge que joga!”
Na ocasião do seminario, Gleason sensei disse algo muito verdadeiro - e Mestre Santos, do Aizen Dojo, sempre enfatiza nos seus treinos tão austeros - Aikidô é arte marcial e não tem nada haver com fraqueza ou moleza. Deve-se ter energia pra imobilizar e arremessar o Ukê, mesmo sem cooperação.
Depois de muita leitura e seminarios de Aikido que eu frequentei, eu a credito que muitos dos pensamentos e descobertas do Fundador foram perdidos ao longo das gerações e que hoje estamos cada vez mais distantes do que ele realmente queria.
O Aikidô deve ser de dentro para fora, e principalmente no praticante.
A harmonização deve ser do Ki do Tori com o ki do universo, a preocupação com o Ukê não deve ser tão enfatizada. Nada de harmonizar com o inimigo!!
Talvez, na minha opinião, a atual abordagem da Hombu dojo, isto é, a de visão humanista tenha o objetivo de divulgar e expandir o Aikido como arte da Paz neste mundo tão conturbado do século 21.
No entanto, durante estes anos de treinamento puramente físico, sendo ukê de grandes mestres, como Yoshika, Arai, Igarashi, Osawa, e outros eu já senti as fagulhas desta energia interna.
Em um golpe ou outro destes grandes mestres antigos dá pra perceber este aikidô com a grande presença do ki e sempre que isto acontece fazemos aquela cara de espanto, como uma criança que acha o ovo de páscoa escondido.
Não tenho muito que falar agora, mas posso somente testemunhar o que senti neste espetacular gashuku de Aikido com William Gleason realizado no Aizen dojo.
Eu senti um Aikidô verdadeiro, uma energia indefensável e sincera.
Agora é colocar a mochila nas costas e correr atrás do conhecimento.