O estilo clássico da Hombu dojo - Y. Kobayashi

Stanley Pranin

Entrevista com Sensei Yasuo Kobayashi 8 Dan. - Publicado no Aikido Journal.

Neste ano de 1999, da entrevista para o Aikido Journal, Sensei Kobayashi aluno direto do O-Sensei, comemorou o 30º aniversário de seu primeiro dojo de Aikido. Eis o teor desta entrevista:

AJ - Sensei, o senhor costumava ensinar no Aikikai Hombu Dojo, e agora está desenvolvendo seu próprio grupo de dojos. Quantos dojos o senhor tem? YK - Existem aproximadamente 100 dojos em Tóquio, Chiba, Saitama por essas áreas. Existem também dojos internacionais em 15 países diferentes.

AJ - Quantos instrutores e alunos estão associados aos Dojos Kobayashi? YK - Eu tenho dez professores que são profissionais. Existem mais de 100 dojos alguns com 120 ou 150 estudantes registrados e alguns com 10. Na média geral, devem haver aproximadamente uns 30 por dojo. Então, eu diria que são mais ou menos uns 3.000 alunos.

AJ - O senhor pode nos contar sobre seu programa aqui no Japão? Há um programa de uchi-deshi? YK - Ainda não pedi a ninguém para ser uchi-deshi. Mesmo assim, um aluno pode vir a treinar e gostar tanto do que está fazendo que poderá deixar seu emprego e se tornar um uchi-deshi.

AJ - Se alguém decidir que quer se tornar um uchi-deshi, o que isso envolve? A que tipo de treinamento voce o colocaria? YK - Não há nenhum programa especial. Uchi-deshi viria ao treino de sexta-feira de manhã (treinamento avançado) onde todos se encontram e em seguida ele participaria das aulas normais.

AJ - Quando alguém se torna um uchi-deshi, existe algum plano para ele gradualmente assumir certa responsabilidade e se tornar um instrutor? YK - Sim, normalmente alguém aprende na média de um, ou às vezes dois anos após entrar no dojo para morar. Nem todos se tornam professores logo depois. Não importa o quanto alguma pessoa possa gostar de treinar, alguns conseguem e alguns não conseguem se tornar professores.

AJ - Quais são as qualidades de um bom instrutor, na sua opinião? YK - Em primeiro lugar, é claro, um professor deve ter uma boa técnica; essa é uma das condições necessárias. Em segundo lugar, um professor deve ter paixão por ensinar e um desejo de continuar aprendendo. Um professor deve Ter a habilidade de criar um treinamento rigoroso mas agradável, e ajudar as pessoas a entender o Aikido.

AJ - Voce tem muitos dojos pequenos ao invés de um grande, e eu sei que isso significa muito para o senhor. O senhor nos diria porque pensa que é mais importante se ter muitos dojos pequenos? YK - No caso do Hombu Dojo, que é central e bem localizado, grupos grandes de pessoas podem treinar. Dojos locais não dependem de pessoas vindas de longe. Todos os dias parece que é o mesmo grupo de alunos entusiasmados que vêm, e o dojo não se torna muito grande. Para se lidar com 50 ou 100 alunos numa vez só, as vezes é necessário um grande esforço, mas por ser difícil movimentar-se ensinar 30 pessoas em três locais diferentes, parecia ser algo que eu poderia fazer com um esforço normal. Eu não tinha planos quando abri novos dojos. Aconteceu desse maneira porque ficou conveniente.

AJ - Na sua opinião, qual é o maior benefício para os alunos que praticam o Aikido? YK - As pessoas tem intenções diferentes. Algumas pessoas porque tem tempo após se aposentarem. Algumas crianças pequenas, porque elas têm corpos frágeis e pouca saúde. Existem muitas razões. É importante que se coloque a pessoa para iniciar no Aikido e daí continuar o treinamento. Para se chegar a isso, é importante que não se deixe a atmosfera do dojo se degenerar. As regras básicas devem ser cuidadosamente seguidas, e eu supervisiono para que isso seja cumprido. Alguns instrutores podem ser mais arrogantes por serem professores. Eu acho que não chega a ser um problema para o professor, mas isso não é bom para os alunos. Em meus dojos as pessoas são relaxadas. Os mais antigos e os iniciantes sentam-se juntos, bebem chá juntos e se divertem.

AJ - Qual é a idade de seu aluno mais novo e de seu mais velho? YK - O mais novo tem quatro e o mais velho tem 78.

AJ - Em seus dojos, os alunos começam a treinar com armas quando ainda são menos graduados. Na sua opinião, porque o treinamento com armas é importante para a prática do Aikido? YK - Se uma pessoa repentinamente pega uma arma após se tornar shodan, essa pessoa não irá se tornar muito boa nisso. Então, desde o início, é bom que se aprenda com armas --- acostumar-se com elas desde o início.

AJ - Eu sei de dojos que mesmo o shodan não pratica com armas. No seu ponto de vista, qual é a importância das armas no treinamento do Aikido? YK - O Aikido veio do Jujitsu, e envolve defesas contra ataques com espadas. Penso que ao aprender com a espada e o bastão, as pessoas podem compreender aos movimentos mais facilmente.

AJ - O senhor aprendeu armas com O-Sensei? YK - O-Sensei ensinava o que ele achava que deveria ensinar, e ele nunca mostrava a mesma coisa duas vezes. Então, aqueles que treinaram com ele acabaram desenvolvendo seus próprios estilos, de acordo com o que eles lembraram. É por isso que existem vários estilos.

AJ - Parece que o O-Sensei não praticava muito com espadas no Hombu Dojo. YK - Nós não praticávamos muito com espadas. O-Sensei frequentemente demonstrava, mas não haviam muitas oportunidades para praticarmos com espadas no dojo. Nós praticávamos o que havíamos vistos por nós mesmos. Até mesmo hoje em dia não se treina com espadas no Hombu Dojo. Quando eu olho para os diferentes professores ensinando com armas, acho que o método do Sensei Saito é o mais fácil para os estudantes entenderem. E é por isso que os Dojos Kobayashi incorporaram o método em seus treinamentos. Em meus dojos as pessoas são relaxadas. Os mais antigos e os iniciantes sentam-se juntos, bebem chá juntos e se divertem.

AJ - Como o Aikido mudou sua vida? YK - No ginasial e colegial, eu era sempre atormentado por alunos. Perdi minha mãe quando ainda era criança e meu pai criou a mim e aos meus irmãos sozinho. Por isso eu tinha que me virar sozinho. Quando comecei o ginasial, decidi que os problemas na escola não iriam mais existir, e comecei nas artes marciais. Quando entrei na universidade, comecei no Aikido, pensei que iria me fazer mais forte.

AJ - Conte-nos um pouco sobre seus seis irmãos e irmãs. YK - Eu era o quinto dos sete filho. Meu irmão mais velho é muito inteligente. Ele tem dois PhDs um em engenharia e um em agricultura. Quando eu entrei na escola, lá estava meu irmão super inteligente. Por isso eu sempre me sentia inferior. Naqueles dias eles costumavam colocar os resultados dos exames na parede da escola, meu irmão sempre estava no topo entre o número um ou dois e eu estava sempre no final. Quando entrei na universidade, eu vi que não podia realmente competir com meu irmão na área de conhecimento acadêmico. Por isso fui na direção do Budo. Por eu sempre ter gostado muito disso, trabalhei muito duro.

AJ - Quantos membros de sua família praticaram Aikido? YK - Uma de minhas irmãs (que faleceu há três anos) treinou Aikido numa época que haviam pouquíssimas mulheres praticando no Hombu Dojo. O-Sensei gostava muito dela e dizia que ela era melhor do que eu. Ela conhecia muito bem as técnicas. A irmã mais nova de minha esposa treinou Aikido por uns 30 anos. Minha esposa praticou; mas ela não gostava de meu modo de ensinar... E é claro que, meu filho Hiroaki e a esposa do meu filho, Miyoko também treinam.

AJ - Em que outros lugares fora do Japão, o senhor já ensinou? YK - Eu estive no Brasil há uns 22 anos atrás, porque um de meus uchi-deshi havia ido para lá. Vou para o Norte da Europa, Finlândia e Suécia. Também vou a Taiwan. Um de meus uchi-deshi foi à Calgary, e fui ao Canadá muitas vezes. Eu ensinei no Colorado e fui a Iowa duas vezes. O Sensei Toyoda me convidou para vir para Chicago para dar aulas lá neste ano. Atualmente, o maior grupo é na Coréia. Um grupo de Hapkido mudou e agora começou a praticar Aikido. Esse grupo de Hapkido até publicou um livro dizendo que dizia que Morihei Ueshiba era o Fundador do Hapkido. (Hapkido e Aikido são escritos com os mesmos caracteres em Coreano). Isso causou uma revolução entre os artistas marciais na Coréia. Esse grupo de Hapkido apareceu na comemoração do meu 20º aniversário e queria fazer uma demonstração. Eu nunca os havia encontrado antes, mas eu sou muito relaxado com essas coisas e permiti. “É claro”, eu disse, “vamos lá!”. Quando eles vieram ao Japão, viram como a técnica do Aikido era por aqui. Na Coréia, é praticado por jovens, e observaram aqui que os mais idosos também podiam gostar de praticar Aikido. Resolveram mudar para o Aikido e, desde então, estamos sempre em contato. São um dos grupos de Hapkido mais numerosos da Coréia.

AJ - O Hapkido com o qual estou familiarizada usa muitos chutes. O grupo Coreano simplesmente incorporou as técnicas do Aikido em seu próprio estilo, ou trocaram os chutes e socos pelo puro Aikido? YK - As pessoas que quiseram fazer Aikido são as que ficaram. As pessoas que não quiseram parar de dar os chutes do Hapkido se separaram. Recebi um fax interessante noutro dia, parece que o som Coreano “ai”, se refere ao local para tratamento de crianças doentes. De vez em quando surgem pais com crianças doentes no dojo e pedem ao Aikidoka para tratá-los. Um dos maiores campeões de Hapkido escreveu que o Hapkido foi criado pelo O-Sensei. Agora ele não consegue nem andar nas ruas sem correr perigo.

AJ - O fundador do Hapkido não foi Coreano? YK - Um Coreano veio ao Japão para estudar Daito-ryu Jujitsu. Quando ele retornou a Coréia, ele misturou com o Karate Coreano e criou o Hapkido.

AJ - Julgando pela sua extensa experiência, o senhor acha que o Aikido é praticado de modo diferente de país para país? YK - Quando fui ao Brasil há alguns anos atrás, era muito diferente. As pessoas confundiam nomes das técnicas, e as pessoas entravam no tatami com sapatos. Hoje em dia não fazem mais isso. Isso tudo mudou agora.

AJ - Qual é o seu conselho para os iniciantes? YK - Basicamente, meu conselho é continuar a treinar. Nós temos um plano comum para ensinar a iniciantes, uma lista numerada de técnicas. Quando eu não estou no dojo, os outros instrutores acompanham e mantém anotações de quando um desses alunos aprendeu completamente esses elementos básicos (ukemi básico, tenkan, etc...). Fazemos isso em todos os dojos. Os instrutores podem olhar as anotações e ter uma idéia do progresso de determinado aluno. Um aluno pode levar um mês, e outro dois meses para aprender a mesma coisa. Depende do aluno.

AJ - Os itens da lista estão em ordem? Uma pessoa pode praticar o item sete antes de fazer os seis primeiros? YK - Isso varia de Sensei para Sensei, mas normalmente essa ordem é seguida.

AJ - Qual é seu conselho para os professores de Aikido? Como Shihan, um instrutor mais experiente, o que voce poderia dizer a nós, instrutores iniciantes, para nos manter no caminho? YK - O mais importante é que voce mesmo deve gostar do Aikido, ou ninguém mais irá.

AJ - Você quer dizer que, se um instrutor não gosta de ensinar Aikido, ele ou ela deveriam deixá-lo? YK - Não, você não consegue deixá-lo. Você irá praticar até que a morte os separe. Deve-se ter o mesmo sentimento que o O-Sensei, que praticou Aikido até sua morte. Hoje em dia, tivemos um grande aumento nos “grande professores”; de repente, se uma pessoa chega a shodan ele é “superior”. Quanto a mim, eu gosto de ukemi e sempre faço ukemi. Se você somente arremessa, você não progride. Se estivermos praticando juntos e fazendo ukemi, todos nós podemos progredir. Deve-se praticar no nível da pessoa com quem se está treinando. Eu realmente não gosto quando alguém se considera superior para fazer ukemi para alguém com nível inferior.

AJ - Você está sugerindo que nós todos devemos treinar com iniciantes? YK - Sim, absolutamente.

AJ - Algum comentário sobre o aumento das organizações de Aikido pelo mundo? YK - No Japão e na América, houve um crescimento ordenado no número de professores e praticantes mais velhos. Não há nada de errado com o crescimento do seu próprio grupo. Mas, não se deve criticar a outros grupos. As pessoas ficarão sempre em torno de um professor cuja maneira de ensinar eles gostem mais. Existem muitas pessoas que apreciam a minha maneira de ensinar, e muitas que não. Não é necessário se dizer coisas como, “O que esse outro professor está fazendo não é Aikido”. Se todos nós reconhecêssemos isso, então não haveria mais muita confusão, e todos poderíamos estar em harmonia. Até os próprios instrutores estariam em harmonia.

AJ - O que voce pensa ser o futuro do Aikido? YK - Com o aumento do número de praticantes mais velhos, também crescem as organizações e seu poder. No entanto, espero que não percam o fato básico que o Aikido foi criado por Morihei Ueshiba O-Sensei. Eu gostaria de ter a esperança de que as pessoas não estariam preocupadas sobre como proteger seu próprio status, mas em se juntar para apoiar o Doshu.

há 16 anos 8 meses