Entrei no Dojô, com o coração acelerado repleto de coragem e medos, me concentrei até onde pude e expulsei o medo para longe do tatame.... (ele ficou ali no cantinho a me olhar, rindo de mim)....
Olhei atentamente ao Sensei tentei captar seus passos, mas minha visão necessitava treino para aguçar o sentido de percepção dos detalhes...
Por um momento fiquei feliz ao notar que todos ali usavam faixa branca.....você pode imaginar minha surpresa ao verificar que meus colegas todos têm uma quedinha, quase um amor intenso por essa faixa....rapidamente me dei conta que eu era ali, realmente, a única faixinha branca em seu primeiro treino....
Ah! mas havia no Dojô uma esperança que não me abandonava....e o desejo imenso de tentar...sentei ao estilo Samurai, minhas pernas resistiam e nem sequer entendiam o que eu estava fazendo ali. O coração oprimiu-se quase chorei. Respirei fundo e recebi juntamente com o arzinho que entrava um sopro de amizade que partia da maioria ali presente...Foi tão reconfortante.... Na época eu atravessava uma situação muito difícil na minha vida pessoal de certa forma este fato foi me encorajando a abrir novos horizontes e o Aikidô estava, no momento para mim, como uma alavanca para a grande virada da minha vida.
O Sensei chamou um colega, fez uma performance e pronto...todos começaram a reproduzi-la, ai, ai, ai.... e eu??!! Fiquei tontinha...olhando ligeiramente envergonhada...foi quando um colega se chegou me convidando para executar tal movimento......troquei os pés, troquei as mão....senti como se eu fosse um polvo e pior, um polvo sem coordenação motora.....já no final do treino, meu espírito vibrava em alegria...venci uma batalha...fizera o meu primeiro treino até o fim.
Do segundo treino em diante...
Um movimento redondo, simples, contínuo que acompanha o ritmo natural do corpo, exatamente como andar.....ai, como é difícil! Talvez a dificuldade esteja na simplicidade da ação.
Mergulhei em recordações de infância, quando tudo era novidade, até mesmo colocar o dedinho na boca..., busquei imagens nos bebes que conheci, pois as minhas lembranças e as experiências antigas ficaram apenas na memória de outras pessoas.... o tempo passa, crescemos e o corpo segue diariamente adquirindo resistência, dureza acomoda se, por fim, a apenas alguns poucos movimentos repetitivos.
aos borbotões chegavam as minhas dificuldades.....o que era direita? O que era esquerda? Coisas tão comuns eram agora meu grande desafio....foi quando surgiu uma questão primordial em minha mente....qual é o meu tamanho real? Pois é, eu passara toda a minha vida me encolhendo para ser menos notada e meu cérebro já não sabia mais a verdadeira distância entre minha cabeça e meus pés e nem qual era a medida de uma mão à outra....nossa, quanta novidade...tanto a aprender.
Meu primeiro rolamento... e todos os outros q se seguiram.....
parecia fácil.... infantil até...porem quando tentei pela primeira vez impactei com o solo e até doeu...comecei a descobrir meu peso.. descobri, por exemplo que ficar redondinha não é fácil.... doeu o ombro, doeram os pés....a cada movimento notava que meu corpo físico possui músculos, nervos, tendões e toda a sorte de material orgânico...eles doíam suavemente, me alertavam quanto as suas presenças, eu estava percebendo o prazer até mesmo na dor...o prazer de ser uma pessoa inteira....inteira como eu nunca sonhara antes.
Sou tão sortuda por ter vários Senseis....
cada amigo cada professor cada um e todos são meus Senseis...espero ansiosa a cada treino para retribuir por tudo que recebo...espero aprender e compartilhar...pois aprendi também que compartilhar não é dividir o que sei, mas multiplicar o conhecimento e é a forma certa de agradecer .
Uma figura importante apareceu em meio ao meu caminho....
um Sensei em especial me ensinou a pegar um iogurte....um danoninho que estava ao meu lado e rolei....rolei como nunca acontecera... meu primeiro rolamento sem dor neste dia a lição aprendida foi....o prazer sem dor é muiiito melhor! Antevejo a emoção de um bom rolamento....
Minha vida pessoal começou a adquirir forma.....
resolvi pendências e fiquei em pé, sozinha pela primeira vez...já podia olhar para minha vidinha e vê-la com proporções, tinha na minhas mãos o poder de moldá-la, para que ela também ficasse mais e mais redondinha, evitando assim os choques, os impactos...facilitando.
Um desejo compulsivo de treinar a todo momento...
minha avidez por aprender a viver me levava a treinar....o Dojô passou a ser minha fonte ar, o espaço ideal onde eu podia coletar informações preciosas a meu respeito....o Dojô passou a ser o espelho onde eu encontrava o meu corpo, meu espirito e onde eu poderia me perceber integralmente...desejei tanto morar no Dojô para não correr o risco de perder nunca mais esta proximidade com meu ser....mais tarde percebi não ser preciso tal atitude, jamais me perderei novamente.....porque agora eu tenho noções da minha dimensão basta portanto apurá-la e, um dia poderei me sentir integral, só que agora não tenho pressa....porque eu sei que estou no caminho.
Dos movimentos do Sensei aprendo muito mais do que apenas copia-los... estes somados as suas palavras ensinam cooperação, objetivos, dimensões, controle, harmonia, comportamento ....aprendo enfim.....Vida e toda a sua simplicidade.
Obrigada